hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama rama rama hare hare

Todas as Glórias a Sri Guru e Sri Gauranga
Nitai Gaura Hari Bol

Srimad Bhagavatam
(de Krishna Dwaipayana Vyasa - Srila Vyasadeva)

pela Divina Graça
de
Sri Srimad Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada
Paramahamsa Thakura Mahashaya

(Original Sem "correções")

 

Segundo Canto

A Manifestação Cósmica

-.-

Capítulo Cinco
A Causa de Todas Causas

Verso 1

närada uväca
deva-deva namas te 'stu
bhüta-bhävana pürvaja
tad vijänéhi yaj jïänam
ätma-tattva-nidarçanam

Sri Narada Muni perguntou a Brahmaji: Ó líder entre os semideuses, ó primeiro ser nascido, eu imploro para oferecer minhas respeitosas reverências a você. Por favor me fale aquele conhecimento transcendental o qual especificamente direciona alguém para a verdade da alma individual e da Superalma.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A perfeição do sistema parampara, ou o caminho da sucessão discipular, é confirmado mais ainda. No capítulo prévio foi estabelecido que Brahmaji, o primeiro ser vivo criado, recebeu conhecimento diretamente do Supremo Senhor, e o mesmo conhecimento foi transmitido para Narada, o próximo discípulo. Narada pediu para receber o conhecimento, e Brahmaji o transmitiu ao ser questionado. Por isso, pedir por conhecimento transcendental da pessoa certa e recebê-lo apropriadamente é o regulamento da sucessão discipular. Esse processo é recomendado no Bhagavad-gita (4.2). O estudante inquisitivo deve se aproximar de um mestre espiritual qualificado para receber conhecimento transcendental por rendição, perguntas com submissão e serviço. Conhecimento recebido por perguntas submissas e serviço é mais efetivo do que conhecimento recebido em troca por dinheiro. Um mestre espiritual na linha de sucessão discipular de Brahma e Narada não tem nenhuma demanda por dólares e centavos. Um estudante fidedigno tem que satisfazê-lo por serviço sincero para obter conhecimento da relação e natureza da alma individual e a Superalma.

Verso 2

yad rüpaà yad adhiñöhänaà
yataù såñöam idaà prabho
yat saàsthaà yat paraà yac ca
tat tattvaà vada tattvataù

Meu querido pai, por favor descreva de fato os sintomas deste mundo manifestado. Qual é sua base? Como é criado? Como é conservado? E sob o controle de quem tudo isso é feito?

Iluminação de Srila Prabhupada:

As perguntas de Narada Muni com base em causa e efeito de fato parecem bem sensatas. Os ateístas, entretanto, apresentam muitas teorias feitas por si próprios sem nenhum toque de causa e efeito. O mundo manifestado, bem como a alma espiritual, ainda são inexplicados pelos ateístas sem Deus por meio do conhecimento experimental, embora tenham apresentado muitas teorias manufaturadas por seus cérebros férteis. Contrário a tais teorias da criação por especulação mental, entretanto, Narada Muni queria saber todos os fatos da criação na verdade, e não por teorias.

Conhecimento transcendental a respeito da alma e da Superalma inclui conhecimento do mundo fenomenal e a base de sua criação. No mundo fenomenal três coisas são observadas de fato por qualquer pessoa inteligente: os seres vivos, o mundo manifestado, e o controle último sobre eles. A pessoa inteligente pode ver que nem o ser vivo nem o mundo fenomenal são criações do acaso. A simetria da criação e suas ações e reações reguladoras sugerem o plano de um cérebro inteligente por trás dela, e por indagação genuína pode-se encontrar a causa última com a ajuda daquele que as conhece de fato.

Verso 3

sarvaà hy etad bhavän veda
bhüta-bhavya-bhavat-prabhuù
karämalaka-vad viçvaà
vijïänävasitaà tava

Meu querido pai, tudo isso é sabido por você cientificamente porque qualquer coisa que foi criada no passado, qualquer coisa que será criada no futuro, ou qualquer coisa criada no presente, e também tudo dentro do universo, está na sua mão, justamente igual uma noz.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Brahma é o criador direto do universo manifestado e tudo dentro do universo. Ele por isso sabe o que aconteceu no passado, o que acontecerá no futuro, e o que acontece no presente. Três itens principais, a saber, o ser vivo, o mundo fenomenal e o controlador, estão sempre em ação contínua - passado, presente e futuro - e o gerente direto deve saber tudo sobre essas ações e reações, do mesmo modo que alguém sabe sobre uma noz dentro do aperto da sua palma. O manufaturador direto de uma coisa particular deve saber como aprendeu a arte de manufaturar, onde obteve os ingredientes, como os configurou e como os produtos no processo de manufatura são transformados. Porque Brahma é o primeiro ser vivo nascido, naturalmente ele deve saber tudo sobre as funções criativas.

Verso 4

yad-vijïäno yad-ädhäro
yat-paras tvaà yad-ätmakaù
ekaù såjasi bhütäni
bhütair evätma-mäyayä

Meu querido pai, qual é a fonte do seu conhecimento? Sob a proteção de quem você permanece? E sob quem você trabalha? Qual é a sua verdadeira posição? Você cria sozinho todos os seres com elementos materiais por sua energia pessoal?

Iluminação de Srila Prabhupada:

Era sabido por Sri Narada Muni que o Senhor Brahma obteve energia criativa por se submeter a severas austeridades. Dessa forma, ele podia entender que havia alguém mais superior a Brahmaji quem investiu Brahma com o poder da criação. Por isso ele fez todas as perguntas acima. Descobertas de conquistas científicas progressivas dessa forma não são independentes. O cientista tem que obter o conhecimento de alguma coisa que já existe por meio do cérebro maravilhoso feito por alguém mais. Um cientista pode trabalhar com a ajuda de um cérebro desse presenteado, porém não é possível para o cientista criar seu próprio ou similar cérebro. Por isso ninguém é independente na matéria de qualquer criação, nem essa criação é automática.

Verso 5

ätman bhävayase täni
na paräbhävayan svayam
ätma-çaktim avañöabhya
ürëanäbhir iväklamaù

Do mesmo modo que a aranha muito facilmente cria a rede de sua teia e manifesta seu poder de criação sem ser derrotada por outros, assim você mesmo também, por empregar sua própria energia auto-suficiente, cria sem a ajuda de ninguém mais.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O melhor exemplo de auto-suficiência é o Sol. O Sol não precisa ser iluminado por nenhum outro corpo. Em vez disso, é o Sol quem ajuda todos outros agentes iluminadores, porque na presença do Sol nenhum outro agente iluminador fica proeminente. Narada comparou a posição de Brahma com a da aranha auto-suficiente, que cria seu próprio campo de atividades sem a ajuda de mais ninguém por empregar sua própria criação energética de saliva.

Verso 6

nähaà veda paraà hy asmin
näparaà na samaà vibho
näma-rüpa-guëair bhävyaà
sad-asat kiïcid anyataù

Qualquer coisa que podemos entender por nomenclatura, características e aspectos de uma coisa particular - superior, inferior ou igual, eterna ou temporária - não é criada por nenhuma fonte além dessa de Vossa Divindade, o quanto grandiosa seja.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O mundo manifestado é cheio de variedades de seres criados em 8.400.000 espécies de vida, alguns deles são superiores e inferiores a outros. Na sociedade humana o ser humano é considerado como o ser vivo superior, e entre os seres humanos existem também diferentes variedades: bom, mau, igual etc.. Porém Narada Muni tomou como certo que nenhum deles tem qualquer fonte de geração além de seu pai, Brahmaji. Por isso ele queria saber tudo sobre eles do Senhor Brahma.

Verso 7

sa bhavän acarad ghoraà
yat tapaù susamähitaù
tena khedayase nas tvaà
parä-çaìkäà ca yacchasi

No entanto, somos levados a questionar-nos sobre a existência de alguém mais poderoso do que você quando pensamos em suas grandes austeridades com disciplina perfeita, embora você mesmo seja tão poderoso na matéria da criação.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Por seguir os passos de Sri Narada Muni, não se deve aceitar cegamente seu mestre espiritual como Deus Ele mesmo. Um mestre espiritual é devidamente respeitado em pé de igualdade com Deus, porém um mestre espiritual que alega ser Deus Ele mesmo deve ser rejeitado imediatamente. Narada Muni aceitou Brahma como o Supremo devido aos maravilhosos atos na criação do Senhor Brahma, porém surgiram dúvidas dentro dele quando ele viu que o Senhor Brahma também adorava uma autoridade superior. O Supremo é supremo, e Ele não tem nenhum superior adorável. O ahangrahopasita, ou aquele que adora si mesmo com a idéia de se tornar Deus Ele mesmo, é errônea, porém o discípulo inteligente pode detectar imediatamente que o Deus Supremo não precisa adorar ninguém, inclusive Ele mesmo, a fim de se tornar Deus. Ahangrahopasana pode ser um dos processos para realização transcendental, porém o ahangrahopasita nunca pode ser Deus Ele mesmo. Ninguém se torna Deus por se submeter a um processo de realização transcendental. Narada Muni pensou em Brahmaji como a Pessoa Suprema, porém quando viu Brahma dedicado no processo de realização transcendental, dúvidas surgiram dentro dele. Por isso ele queria ser informado claramente.

Verso 8

etan me påcchataù sarvaà
sarva-jïa sakaleçvara
vijänéhi yathaivedam
ahaà budhye 'nuçäsitaù

Meu querido pai, você sabe tudo, e você é o controlador de tudo. Por isso tudo que eu perguntei a você possa ser gentilmente instruído para mim para que eu possa ser capaz de entender isso como seu estudante.

Iluminação de Srila Prabhupada:

As perguntas feitas por Narada Muni são muito importantes para todos envolvidos, e dessa forma Narada pediu a Brahmaji para considerá-las adequadas para que todos outros que possam vir à linha de sucessão discipular do Brahma-sampradaya também possam aprendê-las adequadamente sem nenhuma dificuldade.

Verso 9

brahmoväca
samyak käruëikasyedaà
vatsa te vicikitsitam
yad ahaà coditaù saumya
bhagavad-vérya-darçane

O Senhor Brahma disse: Meu querido menino Narada, por ser misericordioso com todos (inclusive comigo) você fez todas essas perguntas porque eu fui inspirado para ver dentro da destreza da Personalidade de Deus Todo-poderosa.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Brahmaji, ao ser assim perguntado por Naradaji, o congratulou, porque é costume para os devotos ficarem muito entusiasmados sempre que são perguntados a respeito da Personalidade de Deus Todo-poderosa. Esse é o sinal de um devoto puro do Senhor. Esses discursos sobre as atividades transcendentais do Senhor purificam a atmosfera na qual essas discussões acontecem, e os devotos assim se tornam animados enquanto respondem essas perguntas. É purificante para ambos os perguntadores e para aquele que responde às perguntas. Os devotos puros não somente ficam satisfeitos por conhecer tudo sobre o Senhor, mas também ávidos para propagar a informação para outros, porque eles querem ver que as glórias do Senhor sejam conhecidas por todos. Por isso o devoto se sente satisfeito quando essa oportunidade é oferecida a ele. Esse é o princípio básico de atividades missionárias.

Verso 10

nänåtaà tava tac cäpi
yathä mäà prabravéñi bhoù
avijïäya paraà matta
etävat tvaà yato hi me

Qualquer coisa que você disse sobre mim não é falsa porque a menos e até que alguém fique ciente da Personalidade de Deus, que é a verdade última além de mim, é certo que ficará iludido por observar minhas atividades poderosas.

Iluminação de Srila Prabhupada:

"O sapo no poço" ilustra logicamente sobre um sapo que reside na atmosfera e limite de um poço não pode imaginar a extensão e largura do oceano gigantesco. Um sapo assim, quando informado da extensão e largura do oceano, primeiro de tudo não acredita que exista um oceano desse, porém se alguém o assegura que de fato existe uma coisa assim, o sapo então começa a medi-lo pela imaginação por meio de inflar sua barriga o máximo possível, com o resultado de que o minúsculo abdômen do sapo explode e o pobre sapo morre sem nenhuma experiência do oceano de verdade. Similarmente, os cientistas materiais também querem desafiar a potência inconcebível do Senhor por medi-Lo com seus cérebros de sapo e suas conquistas científicas, porém no fim eles simplesmente morrem sem sucesso, igual o sapo.

Às vezes uma pessoa poderosa materialmente é aceita como Deus ou encarnação de Deus sem nenhum conhecimento sobre o Deus de fato. Tal avaliação material pode se estender gradualmente, e a tentativa pode alcançar o limite máximo de Brahmaji, que é o ser vivo supremo dentro do universo e tem uma duração de vida inimaginável para os cientistas materiais. Do modo como obtemos informação do mais autêntico livro de conhecimento, o Bhagavad-gita (8.17), um dia e noite de Brahmaji é calculado como algumas centenas de milhares de anos do nosso planeta. Essa longa duração de vida talvez não seja acreditada pelo "sapo no poço", porém pessoas que têm uma realização das verdades mencionadas no Bhagavad-gita aceitam a existência de uma grande personalidade que cria a variedade do universo completo. Entende-se das escrituras reveladas que o Brahmaji deste universo é mais novo do que todos outros Brahmas encarregados dos muitos e muitos universos além deste, porém nenhum deles pode ser igual à Personalidade de Deus.

Naradaji é uma das almas liberadas, e antes da sua liberação ele era conhecido como Narada; de outra forma, antes da sua liberação, ele era simplesmente um filho de uma criada. As perguntas podem ser feitas por que Naradaji fez todas aquelas perguntas igual uma pessoa ordinária com um pobre fundo de conhecimento? Aconteceu uma confusão dessa com Arjuna também, embora ele seja eternamente associado do Senhor. Tal confusão em Arjuna ou em Narada acontece pela vontade do Senhor para que outras pessoas não liberadas possam realizar a verdade e conhecimento reais do Senhor. A dúvida que surge na mente de Narada sobre Brahmaji se tornar todo-poderoso é uma lição para os sapos no poço, para que eles possam não ficar confusos e mal interpretarem a identidade da Personalidade de Deus (mesmo por comparação com uma personalidade igual Brahma, o que dizer de pessoas ordinárias que se posam falsamente como Deus ou uma encarnação de Deus). O Supremo Senhor é sempre o Supremo, e como nós já tentamos estabelecer várias vezes nestes significados, nenhum ser vivo, mesmo até acima para o padrão de Brahma, pode alegar ser uno com o Senhor. Não se deve deixar desviar quando pessoas adoram uma grande pessoa como Deus depois da sua morte como matéria de adoração de herói. Existiram muitos reis tais quais o Senhor Ramachandra, o Rei de Ayodhya, porém nenhum deles é mencionado como Deus nas escrituras reveladas. Ser um bom rei não é necessariamente a qualificação para ser o Senhor Rama, porém para ser uma grande personalidade igual Krishna é a qualificação para ser a Personalidade de Deus. Se nós escrutinarmos os personagens que tomaram parte na Batalha de Kurukshetra, perceberemos que Maharaja Yudhisthira não foi um rei menos piedoso do que o Senhor Ramachandra, e pelo estudo do caráter Maharaja Yudhisthira era um moralista melhor do que o Senhor Krishna. O Senhor Krishna pediu para Maharaja Yudhisthira mentir, porém Maharaja Yudhisthira protestou. Porém isso não significa que Maharaja Yudhisthira possa ser igual ao Senhor Ramachandra ou Senhor Krishna. As grandes autoridades estimaram Maharaja Yudhisthira como um homem piedoso, porém aceitaram o Senhor Rama ou Krishna como a Personalidade de Deus. O Senhor é por isso uma identidade diferente em todas circunstâncias, e nenhuma idéia de antropomorfismo pode ser aplicada para Ele. O Senhor é sempre o Senhor, e um ser vivo comum nunca pode ser igual a Ele.

Verso 11

yena sva-rociñä viçvaà
rocitaà rocayämy aham
yathärko 'gnir yathä somo
yatharkña-graha-tärakäù

Eu crio depois da criação do Senhor por Sua refulgência pessoal (conhecida como brahmajyoti), justamente igual quando o Sol manifesta seu fogo, a Lua, o firmamento, os planetas influentes e as estrelas cintilantes também manifestam seu brilho.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor Brahmaji disse para Narada que sua impressão de que Brahma não era a autoridade suprema na criação estava correta. Às vezes pessoas menos inteligentes têm a impressão tola de que Brahma é a causa de todas causas. Porém Narada queria esclarecer a matéria pelas declarações de Brahmaji, a autoridade suprema do universo. Do mesmo modo que a decisão da corte suprema é final, similarmente o julgamento de Brahmaji, a autoridade suprema do universo, é final no processo Védico de adquirir conhecimento. Como nós já afirmamos no verso prévio, Narada era uma alma liberada; por isso, ele não era uma das pessoas menos inteligentes que aceitam um deus ou deuses falsos de suas próprias formas. Ele se representou como menos inteligente e ainda assim inteligentemente apresentou uma dúvida para ser esclarecida pela autoridade suprema para que o desinformado tome nota disso e fique informado corretamente sobre as complexidades da criação e do criador.

Neste verso Brahmaji esclarece a impressão errada sustentada por menos inteligentes e afirma que ele cria as variedades universais depois da criação potencial pela refulgência esplêndida do Senhor Sri Krishna. Brahmaji também deu separadamente essa declaração no samhita conhecido como Brahma-samhita (5.40), onde ele diz:

yasya prabhä prabhavato jagad-aëòa-koöi-
koöiñv açeña-vasudhädi-vibhüti-bhinnam
tad brahma niñkalam anantam açeña-bhütaà
govindam ädi-puruñaà tam ahaà bhajämi

"Eu sirvo a Suprema Personalidade de Deus Govinda, o Senhor primordial, cuja refulgência corpórea transcendental, conhecida como brahmajyoti, que é ilimitado, insondável e todo-penetrante, é a causa da criação de um número ilimitado de planetas, etc., com variedades de climas e condições específicas de vida".

A mesma declaração está no Bhagavad-gita (14.27). O Senhor Krishna é a base do brahmajyoti (brahmano hi pratisthaham). No Nirukti, ou dicionário Védico, o significado de pratistha é mencionado como "aquilo que estabelece". Por isso o brahmajyoti não é independente ou auto-suficiente. O Senhor Sri Krishna é ultimamente o criador do brahmajyoti, mencionado neste verso como sva-rocisa, ou a refulgência do corpo transcendental do Senhor. Esse brahmajyoti é todo-penetrante, e toda criação é feita possível pelo poder potencial dele; por isso os hinos Védicos declaram que tudo que existe é sustentado pelo brahmajyoti (sarvam khalv idam brahma). Por isso a semente potencial de toda criação é o brahmajyoti, e esse mesmo brahmajyoti, ilimitado e insondável, é estabelecido pelo Senhor. Por isso o Senhor (Sri Krishna) é ultimamente a causa suprema de toda criação (aham sarvasya prabhavah (Bg. 10.8)).

Não se deve esperar que o Senhor crie igual um ferreiro com um martelo e outros instrumentos. O Senhor cria por Suas potências. Ele tem potências múltiplas (parasya saktir vividhaiva sruyate (Cc. Madhya 13.65, significado)). Justamente igual uma pequena semente de uma fruta banyan tem a potência para criar uma grande árvore banyan, o Senhor dissemina todas variedades de sementes por Seu brahmajyoti potencial (sva-rocisa), e as sementes são levadas a desenvolver pelo processo de regar por pessoas iguais Brahma. Brahma não pode criar as sementes, mas ele pode manifestar a semente em uma árvore, justamente igual um jardineiro ajuda plantas e pomares a crescerem pelo processo de regar. O exemplo citado aqui do Sol é muito apropriado. No mundo material o Sol é a causa de toda iluminação: fogo, eletricidade, os raios da Lua etc.. Todas luminárias no céu são criações do Sol, o Sol é a criação do brahmajyoti, e o brahmajyoti é a refulgência do Senhor. Por isso a causa última da criação é o Senhor.

Verso 12

tasmai namo bhagavate
väsudeväya dhémahi
yan-mäyayä durjayayä
mäà vadanti jagad-gurum

Eu ofereço minhas reverências e medito no Senhor Krishna (Vasudeva), a Personalidade de Deus, cuja potência invencível os influencia (a classe de pessoas menos inteligentes) a me chamar de supremo controlador.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Como será explicado mais claramente no próximo verso, a potência ilusória do Senhor confunde os menos inteligentes para aceitar Brahmaji, ou para esse assunto qualquer outra pessoa, como o Supremo Senhor. Brahmaji, entretanto, se recusa a ser chamado assim, e ele diretamente oferece suas respeitosas reverências para o Senhor Vasudeva, ou Sri Krishna, a Personalidade de Deus, do mesmo modo como ele já ofereceu os mesmos respeitos para Ele no Brahma-samhita (5.1):

éçvaraù paramaù kåñëaù
sac-cid-änanda-vigrahaù
anädir ädir govindaù
sarva-käraëa-käraëam

"O Supremo Senhor é a Personalidade de Deus Sri Krishna, o Senhor primordial em Seu corpo transcendental, a causa última de todas causas. Eu adoro esse Senhor Govinda primordial".

Brahmaji é consciente de sua verdadeira posição, e ele sabe como pessoas menos inteligentes, confundidas pela energia ilusória do Senhor, caprichosamente aceitam qualquer um e todos como Deus. Uma personalidade responsável igual Brahmaji se recusa a ser chamado de Supremo Senhor por seus discípulos ou subordinados, porém pessoas idiotas louvadas por pessoas da natureza de cães, suínos, camelos e asnos se sentem enaltecidas para serem chamadas de Supremo Senhor. Por que tais pessoas sentem prazer em serem chamadas de Deus, ou por que tais pessoas são chamadas de Deus por admiradores tolos, é explicado no verso seguinte.

Verso 13

vilajjamänayä yasya
sthätum ékñä-pathe 'muyä
vimohitä vikatthante
mamäham iti durdhiyaù

A energia ilusória do Senhor não pode ter precedência, envergonhada da sua posição, porém aqueles que estão confundidos por ela sempre falam bobagem, absortos em pensamentos de "sou eu" e "isso é meu".

Iluminação de Srila Prabhupada:

A energia de ilusão poderosa invencível da Personalidade de Deus, ou a terceira energia, representante da ignorância, pode iludir o mundo inteiro de animação, porém ela não é poderosa o bastante para ser capaz de permanecer em frente ao Supremo Senhor. Ignorância está atrás da Personalidade de Deus, onde ela é poderosa o bastante para enganar os seres vivos, e o sintoma primário de pessoas confusas é que falam bobagem. Falas sem sentido não são suportadas pelos princípios das literaturas Védicas, e fala sem sentido do primeiro grau é "sou eu, isso é meu". Uma civilização sem Deus é exclusivamente conduzida por tais idéias falsas, e essas pessoas, sem nenhuma realização de Deus de fato, aceitam um Deus falso ou falsamente se declaram como Deus para enganar pessoas que já estão confusas pela energia de ilusão. Aqueles que estão na frente do Senhor, entretanto, e que se renderam a Ele, não podem ser influenciados pela energia de ilusão, por isso estão livres do conceito errado de "sou eu, isso é meu", e por isso não aceitam um Deus falso ou se posam como iguais ao Supremo Senhor. Identificação da pessoa confusa é dada distintamente neste verso.

Verso 14

dravyaà karma ca kälaç ca
svabhävo jéva eva ca
väsudevät paro brahman
na cänyo 'rtho 'sti tattvataù

Os cinco ingredientes elementares da criação, a interação deles estabelecida pelo tempo eterno, e a intuição ou natureza dos seres vivos individuais todos são partes e parcelas diferenciadas da Personalidade de Deus, Vasudeva, e em verdade não existe nenhum outro valor neles.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Este mundo fenomenal é impessoalmente a representação de Vasudeva porque os ingredientes da sua criação, sua interação e o desfrutador da ação resultante, o ser vivo, são todos produzidos pelas energias externa e interna do Senhor Krishna. Isso está confirmado no Bhagavad-gita (7.4-5). Os ingredientes, a saber, terra, água, fogo, ar e céu, e também o conceito da identidade material, inteligência e a mente, são produzidos pela energia externa do Senhor. O ser vivo que desfruta a interação dos ingredientes grosseiros e sutis acima, como estabelecido pelo tempo eterno, é um ramo da potência interna, com liberdade para permanecer tanto no mundo material quanto no mundo espiritual. No mundo material o ser vivo é atraído pela ignorância ilusória, porém no mundo espiritual ele está na condição normal de existência espiritual sem nenhuma ilusão. O ser vivo é conhecido como a potência marginal do Senhor. Mas em todas circunstâncias, nem os ingredientes materiais nem as partes e parcelas espirituais são independentes da Personalidade de Deus Vasudeva, para todas coisas, sejam produtos das potências externa, interna ou marginal do Senhor, são simplesmente exibições da mesma refulgência do Senhor, justamente igual luz, calor e fumaça são exibições do fogo. Nenhum deles é separado do fogo - todos eles combinam juntos para serem chamados de fogo; similarmente, todas manifestações fenomenais, e também a refulgência do corpo de Vasudeva, são Seus aspectos impessoais, enquanto Ele existe eternamente em Sua forma transcendental chamada sac-cid-ananda-vigrahah (Bs. 5.1), distinta de todos conceitos dos ingredientes materiais mencionados acima.

Verso 15

näräyaëa-parä vedä
devä näräyaëäìgajäù
näräyaëa-parä lokä
näräyaëa-parä makhäù

As literaturas Védicas são feitas por e são destinadas para o Supremo Senhor, os semideuses também são destinados para servir o Senhor como partes do Seu corpo, os diferentes planetas também são destinados para o bem do Senhor, e diferentes sacrifícios são executados justamente para satisfazê-Lo.

Iluminação de Srila Prabhupada:

De acordo com os Vedanta-sutras (sastra-yonitvat), o Supremo Senhor é o autor de todas escrituras reveladas, e todas escrituras reveladas são para conhecer o Supremo Senhor. Veda significa conhecimento que conduz para o Senhor. Os Vedas são feitos justamente para reviver a consciência esquecida das almas condicionadas, e qualquer literatura não destinada para reviver a consciência de Deus é rejeitada imediatamente pelos devotos narayana-para. Tais livros ilusórios de conhecimento, que não têm Narayana como seu objetivo, não são conhecimento de jeito nenhum, porém são parques de diversão para corvos que estão interessados na recusa rejeitada do mundo. Qualquer livro de conhecimento (ciência ou arte) deve conduzir para o conhecimento de Narayana; senão deve ser rejeitado. Assim é o caminho para avanço no conhecimento. A deidade adorável suprema é Narayana. Os semideuses são recomendados secundariamente para adoração em relação com Narayana porque os semideuses são mãos assistentes na administração dos assuntos universais. Do mesmo modo que os ministros de um reino são respeitados devido à sua relação com o rei, os semideuses são adorados devido à sua relação com o Senhor. Sem a relação com o Senhor, adoração dos semideuses é desautorizada (avidhi-purvakam), justamente como é impróprio regar as folhas e galhos de uma árvore sem regar sua raiz. Por isso os semideuses também são dependentes de Narayana. Os lokas, ou diferentes planetas, são atraentes porque têm diferentes variedades de vida e bem-aventurança que representam parcialmente o sac-cid-ananda-vigraha (Bs. 5.1). Todos querem a vida eterna de bem-aventurança e conhecimento. No mundo material uma vida eterna assim de bem-aventurança e conhecimento é realizada progressivamente nos planetas superiores, mas depois de chegar lá alguém fica inclinado a alcançar mais progresso ainda junto do caminho de volta ao Supremo. Duração de vida, com uma quantidade proporcional de bem-aventurança e conhecimento, pode ser incrementada de um planeta para outro. Pode-se incrementar a duração de vida para milhares e centenas de anos em diferentes planetas, porém em nenhum lugar existe vida eterna. Porém aquele que consegue alcançar o planeta mais elevado, o de Brahma, pode aspirar alcançar os planetas no céu espiritual, onde a vida é eterna. Por isso, a jornada progressiva de um planeta para outro culmina em alcançar o planeta supremo do Senhor (mad-dhama), onde a vida é eterna e cheia de bem-aventurança e conhecimento. Todos diferentes tipos de sacrifício são executados justamente para satisfazer o Senhor Narayana com a visão de alcançá-Lo, e o melhor sacrifício recomendado nesta era de Kali é sankirtana-yajña, o esteio principal do serviço devocional de um devoto narayana-para.

Verso 16

näräyaëa-paro yogo
näräyaëa-paraà tapaù
näräyaëa-paraà jïänaà
näräyaëa-parä gatiù

Todos tipos diferentes de meditação ou misticismo são meios para realizar Narayana. Todas austeridades são destinadas para alcançar Narayana. Cultura do conhecimento transcendental é para obter um vislumbre de Narayana, e ultimamente salvação é entrar no reino de Narayana.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Em meditação, existem dois sistemas de yoga, a saber, astanga-yoga e sankhya-yoga. Astanga-yoga é prática em concentrar a mente, que liberta alguém de todas ocupações pelo processo regulador de meditação, concentração, posturas sentadas, bloquear os movimentos da circulação interna de ar etc.. Sankhya-yoga é destinado para distinguir a verdade dos efêmeros. Porém ultimamente ambos os sistemas são destinados para realizar o Brahman impessoal, o qual é apenas uma representação parcial de Narayana, a Personalidade de Deus. Como já explicamos antes, a refulgência Brahman impessoal é apenas uma parte da Personalidade de Deus. Brahman impessoal está situado na pessoa da Suprema Personalidade de Deus, e assim Brahman é a glorificação da personalidade do Supremo. Isso é confirmado tanto no Bhagavad-gita quando no Matsya Purana. Gati se refere ao destino último, ou a última palavra em liberação. Unidade com o brahmajyoti impessoal não é liberação última; superior a isso é a associação sublime da Personalidade de Deus em um dos inumeráveis planetas espirituais no céu Vaikuntha. Assim a conclusão é que Narayana, ou a Personalidade de Deus, é o destino último para todos tipos de sistemas de yoga e também todos tipos de liberação.

Verso 17

tasyäpi drañöur éçasya
küöa-sthasyäkhilätmanaù
såjyaà såjämi såñöo 'ham
ékñayaiväbhicoditaù

Inspirado por Ele unicamente, eu descobri o que já tinha sido criado por Ele (Narayana) sob Sua visão como a Superalma todo-penetrante, e eu também sou criado unicamente por Ele.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Mesmo Brahma, o criador do universo, admite que ele não é o verdadeiro criador mas é simplesmente inspirado pelo Senhor Narayana e por isso cria sob a superintendência Dele aquelas coisas já criadas por Ele, a Superalma de todos seres vivos. Duas identidades da alma, a Superalma e a alma individual, são admitidas como dentro do ser vivo, mesmo para a maior autoridade do universo. A Superalma é o Supremo Senhor, a Personalidade de Deus, enquanto a alma individual é o servidor eterno do Senhor. O Senhor inspira a alma individual para criar aquilo que já foi criado pelo Senhor, e pela boa vontade do Senhor um descobridor de alguma coisa no mundo é acreditado como o descobridor. É dito que Colombo descobriu o Hemisfério Ocidental, porém na realidade a extensão de terra não foi criada por Colombo. A vasta extensão de terra já estava lá pela onipotência do Supremo Senhor, e Colombo, por mérito de seu serviço passado para o Senhor, foi abençoado com o crédito de ter descoberto a América. Similarmente, ninguém pode criar nada sem a sanção do Senhor, pois cada um vê de acordo com sua habilidade. Essa habilidade também é concedida pelo Senhor de acordo com o desejo de alguém para prestar serviço para o Senhor. Deve-se por isso ser desejoso voluntariamente para prestar serviço para o Senhor, e assim o Senhor dotará de poder o executor na proporção de sua rendição aos pés de lótus do Senhor. O Senhor Brahma é um grande devoto do Senhor, por isso ele foi dotado de poder ou inspirado pelo Senhor para criar um universo assim como este manifestado perante nós. O Senhor também inspirou Arjuna para lutar no campo em Kurukshetra como segue:

tasmät tvam uttiñöha yaço labhasva
jitvä çatrün bhuìkñva räjyaà samåddham
mayaivaite nihatäù pürvam eva
nimitta-mätraà bhava savyasäcin
(Bg. 11.33)

A Batalha de Kurukshetra, ou qualquer outra batalha em qualquer lugar ou em qualquer hora, é feita pela vontade do Senhor, porque ninguém pode arranjar uma aniquilação em massa assim sem a sanção do Senhor. O partido de Duryodhana insultou Draupadi, uma grande devota de Krishna, e ela apelou para o Senhor e também para todos observadores silenciosos desse insulto injustificado. Arjuna então foi aconselhado pelo Senhor para lutar e levar o crédito; senão o partido de Duryodhana seria morto de qualquer forma pela vontade do Senhor. Assim Arjuna foi aconselhado justamente para se tornar o agente e levar o crédito de matar grandes generais tais quais Bhisma e Karna.

Nos escritos Védicos tal qual o Katha Upanishad, o Senhor é descrito como sarva-bhuta-antaratma, ou a Personalidade de Deus que reside dentro do corpo de todos e que dirige tudo para aquele que é uma alma rendida a Ele. Aqueles que não são almas rendidas são postos sob o cuidado da natureza material (brahmayan sarva-bhutani yantrarudhani mayaya (Bg. 18.61)); por isso, eles têm permissão para fazer coisas por conta própria e sofrem as conseqüências eles mesmos. Devotos iguais Brahma e Arjuna não fazem nada por conta própria, porém como almas rendidas plenamente eles sempre esperam indicações do Senhor; por isso eles tentam fazer algo que pareça muito maravilhoso para a visão ordinária. Um dos nomes do Senhor é Urukrama, ou aquele cujas ações são muito maravilhosas e estão além da imaginação do ser vivo, dessa forma as ações de Seus devotos às vezes parecem muito maravilhosas devido à direção do Senhor. A começar por Brahma, o ser vivo mais inteligente dentro do universo, abaixo até a formiga insignificante, a inteligência de cada ser vivo é supervisionada pelo Senhor em Sua posição transcendental como a testemunha de todas ações. A presença sutil do Senhor é sentida pela pessoa inteligente que pode estudar os efeitos psíquicos de pensar, sentir e desejar.

Verso 18

sattvaà rajas tama iti
nirguëasya guëäs trayaù
sthiti-sarga-nirodheñu
gåhétä mäyayä vibhoù

O Supremo Senhor é forma espiritual pura, transcendental a todas qualidades materiais, mesmo assim para o bem da criação do mundo material e sua manutenção e aniquilação, Ele aceita através de Sua energia externa os modos da natureza material chamados bondade, paixão e ignorância.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Supremo Senhor é o mestre da energia externa manifestada pelos três modos materiais, chamados bondade, paixão e ignorância, e por ser o mestre dessa energia Ele é sempre não afetado pela influência dessa energia desconcertante. Os seres vivos, os jivas, entretanto, são afetados por ou suscetíveis a serem influenciados por esses modos da natureza material - essa é a diferença entre o Senhor e os seres vivos. Os seres vivos são sujeitos a essas qualidades, embora originalmente os seres vivos sejam qualitativamente unos com o Senhor. Em outras palavras, os modos materiais da natureza, por serem produtos da energia do Senhor, estão certamente conectados com o Senhor, porém a conexão é justamente igual a entre o mestre e os servos. O Supremo Senhor é o controlador da energia material, enquanto os seres vivos, que estão enredados no mundo material, não são nem mestres nem controladores. Em vez disso, eles se tornam subordinados a ou controlados por essa energia. De fato o Senhor é eternamente manifestado por Sua potência interna ou energia espiritual justamente igual o Sol e seus raios no céu limpo, mas às vezes Ele cria a energia material, do mesmo modo que o Sol cria uma nuvem no céu limpo. Do mesmo modo que o Sol é cada vez mais não afetado por uma mancha de nuvem, assim também o Senhor ilimitado não é afetado por uma mancha de energia material manifestada às vezes na extensão ilimitada dos raios do brahmajyoti do Senhor.

Verso 19

kärya-käraëa-kartåtve
dravya-jïäna-kriyäçrayäù
badhnanti nityadä muktaà
mäyinaà puruñaà guëäù

Esses três modos da natureza material, mais manifestados como matéria, conhecimento e atividades, põem o ser vivo eternamente transcendental sob condições de causa e efeito e o fazem responsável por essas atividades.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Porque eles estão entre as potências interna e externa, os seres vivos eternamente transcendentais são chamados de potência marginal do Senhor. De fato, os seres vivos não são destinados a serem condicionados assim pela energia material, mas devido a estarem afetados pelo senso falso de dominar a energia material, eles vêm para a influência dessa potência e assim se tornam condicionados pelos três modos da natureza material. Esta energia externa do Senhor cobre o conhecimento puro dos seres vivos que existem eternamente com Ele, porém a cobertura é tão constante a ponto de parecer que a alma condicionada é eternamente ignorante. Assim é a maravilhosa ação de maya, ou energia externa manifestada como se fosse produzida materialmente. Pelo poder de cobertura da energia material, o cientista materialista não pode ver além das causas materiais, mas de fato, por trás das manifestações materiais, existem ações adhibhuta, adhyatma e adhidaiva, as quais a alma condicionada no modo da ignorância não pode ver. A manifestação adhibhuta implica repetições de nascimentos e mortes com velhice e doenças, a manifestação adhyatma condiciona a alma espiritual, e a manifestação adhidaiva é o sistema de controle. Essas são as manifestações materiais de causa e efeito e o senso de responsabilidade dos atores condicionados. Elas são, depois de tudo, manifestações do estado condicionado, e a liberdade do ser humano desse estado condicionado é a conquista da perfeição mais elevada.

Verso 20

sa eña bhagaväû liìgais
tribhir etair adhokñajaù
svalakñita-gatir brahman
sarveñäà mama ceçvaraù

Ó Brahmana Narada, o Supervisor, o Senhor transcendental, está além da percepção dos sentidos materiais dos seres vivos por causa dos três modos da natureza mencionados acima. Entretanto Ele é o controlador de todos, comigo inclusive.

Iluminação de Srila Prabhupada:

No Bhagavad-gita (7.24-25) o Senhor declarou muito claramente que o impersonalista, que dá mais importância para os raios transcendentais do Senhor como brahmajyoti e conclui que a Verdade Absoluta é ultimamente impessoal e só manifesta uma forma num tempo de necessidade, é menos inteligente do que o personalista, entretanto muitos dos impersonalistas podem estar engajados em estudar o Vedanta. O fato é que esses impersonalistas estão cobertos pelos três modos da natureza material mencionados acima; por isso, eles são incapazes de se aproximarem da Personalidade do Senhor. O Senhor não é aproximável por qualquer um porque Ele está encoberto por Sua potência yogamaya. Porém não se deve concluir erroneamente que o Senhor era anteriormente não manifestado e agora Se manifestou na forma humana. Esse equívoco da ausência de forma na Suprema Personalidade de Deus é devido à cortina de yogamaya do Senhor e só pode ser removida pela Vontade Suprema, tão logo a alma condicionada se renda a Ele. Os devotos do Senhor que são transcendentais aos três modos da natureza material mencionados acima podem ver a forma transcendental todo-bem-aventurada do Senhor com sua visão de amor na atitude do serviço devocional puro.

Verso 21

kälaà karma svabhävaà ca
mäyeço mäyayä svayä
ätman yadåcchayä präptaà
vibubhüñur upädade

O Senhor, que é o controlador de todas energias, assim cria, por Sus própria potência, tempo eterno, o destino de todos seres vivos, e a natureza particular deles, para a qual eles foram criados, e Ele novamente os imerge independentemente.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A criação do mundo material, dentro do qual as almas condicionadas recebem permissão para agirem de forma subordinada pelo Supremo Senhor, acontece repetidamente depois de ser aniquilada repetidamente. A criação material é algo como uma nuvem no céu ilimitado. O verdadeiro céu é o céu espiritual, eternamente preenchido com os raios do brahmajyoti, e uma porção desse céu ilimitado é coberta pela nuvem mahat-tattva da criação material, na qual as almas condicionadas, que desejam dominá-la contra a vontade do Senhor, são postos em ação do modo que desejam sob o controle do Senhor pela agência de Sua energia externa. Do mesmo modo que a estação de chuva aparece e desaparece regularmente, a criação acontece e é novamente aniquilada sob o controle do Senhor, como confirmado no Bhagavad-gita (8.19). Assim a criação e aniquilação dos mundos materiais é uma ação regular do Senhor justamente para permitir que as almas condicionadas atuem como gostam e a partir daí criam seu próprio destino de serem criadas novamente diferentemente em termos de seus desejos independentes na hora da aniquilação. A criação, dessa forma, acontece numa data histórica (do modo que estamos acostumados a pensar que tudo tem um começo em nossa insignificante experiência). O processo de criação e aniquilação é chamado anadi, ou sem referência de tempo em relação com o tempo que a criação aconteceu primeiro, porque a duração mesmo de uma criação parcial é 8.640.000.000 anos. A lei da criação é, entretanto, como mencionado nas literaturas Védicas, que é criada em certos intervalos e é novamente aniquilada pela vontade do Senhor. Toda a criação inteira material ou mesmo a espiritual é uma manifestação da energia do Senhor, justamente igual a luz e calor de um fogo são manifestações diferentes da energia do fogo. O Senhor dessa forma existe em Sua forma impessoal por essa expansão de energia, e a criação completa repousa em Seu aspecto impessoal. No entanto Ele Se mantém distinto dessa criação como o purnam (ou completo), e assim ninguém deve pensar erroneamente que Seu aspecto pessoal não é existente devido às Suas expansões impessoais ilimitadas. A expansão impessoal é uma manifestação de Sua energia, e Ele está sempre em Seu aspecto pessoal sem levar em conta Suas expansões ilimitadas inumeráveis de energias impessoais (Bg. 9.5-7). Para inteligência humana é muito difícil conceber como a criação inteira repousa em Sua expansão de energia, porém o Senhor deu um exemplo muito bom no Bhagavad-gita. É dito que embora o ar e seus átomos repousem dentro de uma expansão do céu imensa, que é igual o reservatório de repouso de tudo criado materialmente, mesmo assim o céu permanece separado e não afetado. Similarmente embora o Supremo Senhor mantém tudo criado pela Sua expansão de energia, Ele sempre permanece separado. Isso é aceito até por Shankaracharya, o grande advogado da forma impessoal do Absoluto. Ele diz narayanah paro 'vyaktat, ou Narayana existe separadamente, à parte da energia criativa impessoal. A criação inteira assim imerge no corpo do Narayana transcendental na hora da aniquilação, e a criação emana novamente de Seu corpo com as mesmas características imutáveis de destino e natureza individual. Os seres vivos individuais, por serem partes e parcelas do Senhor, são às vezes descritos como atma, qualitativamente uno em constituição espiritual. Mas porque esses seres vivos são aptos a serem atraídos para a criação material, ativamente e subjetivamente, são assim diferentes do Senhor.

Verso 22

käläd guëa-vyatikaraù
pariëämaù svabhävataù
karmaëo janma mahataù
puruñädhiñöhitäd abhüt

Depois da encarnação do primeiro purusa (Karanarnavashayi Vishnu), o mahat-tattva, ou os princípios da criação material, acontecem, e então tempo é manifestado, e no curso do tempo as três qualidades aparecem. Natureza significa os três aparecimentos qualitativos. Eles se transformam em atividades.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Pela onipotência do Supremo Senhor, a criação material inteira evolui pelo processo de transformação e reações uma depois da outra, e pela mesma onipotência, elas são apagadas novamente uma depois da outra e conservadas dentro do corpo do Supremo. Kala, ou tempo, é o sinônimo de natureza e a manifestação transformada dos princípios da criação material. Dessa forma, kala pode ser considerado como a primeira causa da criação, e pela transformação da natureza, diferentes atividades do mundo material se tornam visíveis. Essas atividades podem ser consideradas como o instinto natural de cada e todo ser vivo, ou mesmo de seus objetos inertes, e depois da manifestação das atividades existem variedades de produtos e subprodutos da mesma natureza. Originalmente isso tudo é por causa do Supremo Senhor. Os Vedanta-sutras e o Bhagavatam assim começam com a Verdade Absoluta como o começo de todas criações (janmady asya yatah (Bhag. 1.1.1)).

Verso 23

mahatas tu vikurväëäd
rajaù-sattvopabåàhität
tamaù-pradhänas tv abhavad
dravya-jïäna-kriyätmakaù

Atividades materiais são causadas pelo mahat-tattva ser agitado. Primeiramente há transformação dos modos da bondade e paixão, e depois - por causa do modo da ignorância - matéria, seu conhecimento, e diferentes atividades do conhecimento material começam a atuar.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Criações materiais de toda descrição são mais ou menos devido ao desenvolvimento do modo da paixão (rajas). O mahat-tattva é o princípio da criação material, e quando é agitado pela vontade do Supremo primeiramente os modos da paixão e bondade ficam proeminentes, e depois disso o modo da paixão, gerado no devido curso por atividades materiais de variedades diferentes, fica proeminente, e os seres vivos são assim envolvidos mais e mais na ignorância. Brahma é o representante do modo da paixão, e Vishnu é o representante do modo da bondade, enquanto o modo da ignorância é representado pelo Senhor Shiva, o pai das atividades materiais. Natureza material é chamada a mãe, e o iniciador da vida materialista é o pai, Senhor Shiva. Toda criação material pelos seres vivos é dessa forma iniciada pelo modo da paixão. Com o avanço da duração de vida num milênio particular, os modos diferentes atuam pelo desenvolvimento gradual. Na era de Kali (quando o modo da paixão é o mais proeminente) atividades materiais de diferentes variedades, em nome do avanço da civilização humana, acontece, e os seres vivos ficam cada vez mais envolvidos em esquecer sua identidade verdadeira - a natureza espiritual. Por um pequeno cultivo do modo da bondade, um vislumbre da natureza espiritual é percebido, mas por causa da proeminência do modo da paixão, o modo da bondade fica adulterado. Por isso ninguém pode transcender os limites dos modos materiais, e dessa forma realização do Senhor, que é sempre transcendental aos modos da natureza material, fica muito difícil para os seres vivos, mesmo embora proeminentemente situados no modo da bondade através do cultivo de vários métodos. Em outras palavras, as matérias grosseiras são adhibhutam, sua manutenção é adhidaivam, e o iniciador das atividades materiais é chamado adhyatmam. No mundo material esses três princípios atuam como aspectos proeminentes, a saber, matéria-prima, seus suprimentos regulares, e seu uso nas diferentes variedades de criações materiais para prazer sensual pelos seres confundidos.

Verso 24

so 'haìkära iti prokto
vikurvan samabhüt tridhä
vaikärikas taijasaç ca
tämasaç ceti yad-bhidä
dravya-çaktiù kriyä-çaktir
jïäna-çaktir iti prabho

O ego materialista autocentrado, assim transformado em três aspectos, torna-se conhecido como os modos da bondade, paixão e ignorância em três divisões, a saber, os poderes que evoluem matéria, conhecimento das criações materiais, e a inteligência que guia essas atividades materialistas. Narada, você é bem competente para entender isso.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Ego materialista, ou o senso de identificação com matéria, é grosseiramente autocentrado, desprovido de conhecimento claro da existência de Deus. E esse egoísmo autocentrado dos seres vivos materialistas é a causa de eles serem condicionados pela outra parafernália e continuação de seu cativeiro da existência material. No Bhagavad-gita esse egoísmo autocentrado é muito bem explicado no Sétimo Capítulo (versos 24 a 27). O impersonalista autocentrado, sem uma concepção clara da Personalidade de Deus, conclui de sua própria forma que a Personalidade de Deus aceita uma forma material da Sua existência espiritual impessoal original para uma missão particular. E esse conceito enganoso do Supremo Senhor pelo impersonalista autocentrado continua, mesmo embora ele seja visto como muito interessado nas literaturas Védicas tais quais os Brahma-sutras e outras fontes de conhecimento altamente elevadas. Essa ignorância sobre o aspecto pessoal do Senhor é devido simplesmente à ignorância sobre a mistura dos modos diferentes. O impersonalista assim não pode conceber a forma espiritual eterna de conhecimento, bem-aventurança e existência. A razão é que o Senhor reserva o direito de não Se expor para o não devoto que, mesmo depois de um estudo de literatura tipo o Bhagavad-gita, permanece um impersonalista simplesmente por obstinação. Essa obstinação é devido à influência de yogamaya, uma energia pessoal do Senhor que age igual uma ajudante de campo por cobrir a visão do impersonalista obstinado. Um ser humano confuso assim é descrito como mudha, ou ignorante grosseiramente, porque ele é incapaz de entender a forma transcendental do Senhor como não nascido e imutável. Se o Senhor assume uma forma ou figura material de Seu aspecto impessoal original, então isso quer dizer que Ele é nascido e mutável de impessoal para pessoal. Porém Ele não é mutável. Nem Ele nunca aceitou um novo nascimento igual uma alma condicionada. A alma condicionada pode assumir uma forma nascimento depois de nascimento devido à sua existência condicionada na matéria, porém os impersonalistas autocentrados, por sua ignorância grosseira, aceitam o Senhor como um deles por causa do egoísmo autocentrado, mesmo depois de muito avanço no conhecimento do Vedanta. O Senhor por estar situado dentro do coração de todo ser vivo individual, sabe muito bem da tendência dessas almas condicionadas em termos de passado, presente e futuro, porém a alma condicionada confusa dificilmente pode conhecê-Lo em Sua forma eterna. Pela vontade do Senhor, dessa forma, o impersonalista, mesmo depois de conhecer os aspectos Brahman e Paramatma do Senhor, permanece ignorante sobre Seu aspecto pessoal eterno como Narayana sempre existente, transcendental a toda criação material.

A causa de uma ignorância grosseira assim é engajamento constante pela pessoa materialista na matéria de incrementar artificialmente demandas materiais. Para realizar a Suprema Personalidade de Deus, tem-se que purificar os sentidos materialistas pelo serviço devocional. O modo da bondade, ou a cultura brahmana recomendada nas literaturas Védicas, é útil para uma realização espiritual assim, e por isso o estágio jñana-sakti da alma condicionada é comparativamente melhor do que os outros dois estágios, a saber, dravya-sakti e kriya-sakti. A civilização material inteira é manifestada por uma imensa acumulação de materiais, ou em outras palavras, matéria-prima para propósitos industriais, e os empreendimentos industriais (kriya-sakti) são todos devidos à ignorância grosseira da vida espiritual. A fim de retificar esta grande anomalia da civilização material, baseada nos princípios de dravya-sakti e kriya-sakti, deve-se adotar o processo do serviço devocional do Senhor pela adoção dos princípios de karma-yoga, mencionados no Bhagavad-gita (9.27) a seguir:

yat karoñi yad açnäsi
yaj juhoñi dadäsi yat
yat tapasyasi kaunteya
tat kuruñva mad-arpaëam

"Ó filho de Kunti, tudo o que você faz, tudo o que você come, tudo o que você oferece ou dá, e também as austeridades que você possa executar, devem ser feitos como uma oferenda a Mim".

Verso 25

tämasäd api bhütäder
vikurväëäd abhün nabhaù
tasya mäträ guëaù çabdo
liìgaà yad drañöå-dåçyayoù

Da escuridão do ego falso, o primeiro dos cinco elementos, a saber, o céu, é gerado. Sua forma sutil é a qualidade do som, exatamente igual aquele que vê está em relação com o visto.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Os cinco elementos, a saber, céu, ar, fogo, água e terra, são todos apenas qualidades diferentes da escuridão do ego falso. Isso significa que o ego falso na forma soma total do mahat-tattva é gerado pela potência marginal do Senhor, e por causa desse ego falso ou dominar a criação material, ingredientes são gerados para o desfrute falso do ser vivo. O ser vivo é praticamente o fator dominante sobre os elementos materiais como o desfrutador, embora a base seja o Supremo Senhor. De fato, salvo e exceto o Senhor, ninguém pode ser chamado o desfrutador, porém o ser vivo deseja se tornar falsamente o desfrutador. Essa é a origem do ego falso. Quando o ser vivo confuso deseja isso, os elementos sombrios são gerados pela vontade do Senhor, e os seres vivos recebem permissão para correrem atrás deles como se fosse uma fantasmagoria.

É dito que o som tan-mantra é criado e depois o céu, e neste verso isso está confirmado que realmente é assim, porém som é a forma sutil do céu, e a distinção é igual àquela entre aquele que vê e o visto. O som é a representação do objeto real, do mesmo modo que o som produzido por falar do objeto dá uma idéia da descrição do objeto. Assim som é a característica sutil do objeto. Similarmente, representação sonora do Senhor, em termos de Suas características, é a forma completa do Senhor, como foi visto por Vasudeva e Maharaja Dasharatha, os pais do Senhor Krishna e Senhor Rama. A representação sonora do Senhor não é diferente do Senhor Ele mesmo porque o Senhor e Sua representação em som são conhecimento absoluto. O Senhor Chaitanya nos instruiu que no santo nome do Senhor, como representação sonora do Senhor, todas potências do Senhor estão investidas. Assim pode-se desfrutar imediatamente a associação do Senhor pela vibração pura da representação sonora de Seu santo nome, e o conceito do Senhor é imediatamente manifestado perante o devoto puro. Um devoto puro, por isso, não fica afastado do Senhor mesmo por um momento. O santo nome do Senhor como recomendado nos sastras - Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare - pode dessa forma ser cantado constantemente pelo devoto que aspira estar constantemente em contato com o Senhor. Aquele que é assim capaz de se associar com o Senhor com certeza será liberado da escuridão do mundo criado, que é um produto do ego falso (tamasi ma jyotit gama).

Versos 26 a 29

nabhaso 'tha vikurväëäd
abhüt sparça-guëo 'nilaù
paränvayäc chabdaväàç ca
präëa ojaù saho balam

väyor api vikurväëät
käla-karma-svabhävataù
udapadyata tejo vai
rüpavat sparça-çabdavat

tejasas tu vikurväëäd
äséd ambho rasätmakam
rüpavat sparçavac cämbho
ghoñavac ca paränvayät

viçeñas tu vikurväëäd
ambhaso gandhavän abhüt
paränvayäd rasa-sparça-
çabda-rüpa-guëänvitaù

Porque o céu é transformado, o ar é gerado com a qualidade do tato, e pela sucessão prévia o ar também é cheio de som e os princípios básicos da duração de vida: percepção sensorial, poder mental e força corpórea. Quando o ar é transformado no curso do tempo e curso da natureza, fogo é gerado, e toma forma com o senso de tato e som. Porque o fogo também é transformado, acontece uma manifestação da água, cheia de suco e sabor. Como previamente, também tem forma e tato e também cheia de som. E água, transformada de todas variedades em terra, parece odorosa e, como previamente, fica qualitativamente cheia de suco, tato, som e forma respectivamente.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O processo inteiro da criação é um ato de evolução e desenvolvimentos graduais de um elemento para outro, e chega até a variedade da terra com tantas árvores, plantas, montanhas, rios, répteis, pássaros, animais e variedades de seres humanos. A qualidade de percepção sensorial também é evolucionária, a saber, gerada pelo som, depois tato, e do tato para forma. Paladar e olfato também são gerados junto com o desenvolvimento gradual de céu, ar, fogo, água e terra. Todos eles são mutualmente a causa e efeito um do outro, porém a causa original é o Senhor Ele próprio em porção plenária, como Maha-Vishnu deitado no oceano causal do mahat-tattva. Assim, o Senhor Krishna é descrito no Brahma-samhita como a causa de todas causas, e é confirmado no Bhagavad-gita (10.8) a seguir:

ahaà sarvasya prabhavo
mattaù sarvaà pravartate
iti matvä bhajante mäà
budhä bhäva-samanvitäù

As qualidades de percepção sensorial estão representadas plenamente na terra, e são manifestadas nos outros elementos numa extensão menor. No céu só existe som, enquanto no ar existe som e tato. No fogo existe som, tato e forma, e na água existe paladar também, junto com as outras percepções, a saber, som, tato e forma. Na terra, entretanto, existem todas as qualidades mencionadas acima com um desenvolvimento extra de olfato também. Dessa forma na terra existe uma exibição plena da variedade da vida, que é originalmente iniciada com o princípio básico do ar. Doenças no corpo acontecem devido ao desarranjo do ar dentro do corpo terrestre dos seres vivos. Doenças materiais resultam do desarranjo especial do ar dentro do corpo, e assim, exercício de yoga é especialmente benéfico para manter o ar em ordem para que as doenças do corpo fiquem quase nulas por esses exercícios. Quando são feitos apropriadamente a duração da vida também incrementa, e pode-se ter controle sobre a morte também por essas práticas. Um yogi perfeito pode ter comando sobre a morte e deixar o corpo no momento certo, quando estiver competente para se transferir a um planeta adequado. O bhakti-yogi, entretanto, ultrapassa todos yogis porque, por mérito de seu serviço devocional, ele é promovido para a região além do céu material e é colocado em um dos planetas do céu espiritual pela vontade suprema do Senhor, o controlador de tudo.

Verso 30

vaikärikän mano jajïe
devä vaikärikä daça
dig-vätärka-praceto 'çvi-
vahnéndropendra-mitra-käù

Do modo da bondade a mente é gerada e se torna manifestada, e também os dez semideuses que controlam os movimentos corpóreos. Esses semideuses são conhecidos como o controlador das direções, o controlador do ar, o deus do Sol, o pai de Daksha Prajapati, os Ashvini-kumaras, o deus do fogo, o Rei do paraíso, a deidade adorável no paraíso, o líder dos Adityas, e Brahmaji, o Prajapati. Todos entram em existência.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Vaikarika é o estágio neutro da criação, e tejas é a iniciativa da criação, enquanto tamas é a exibição plena da criação material sob o encanto da escuridão da ignorância. Manufatura das "necessidades da vida" em fábricas e oficinas, excessivamente proeminentes na era de Kali, ou na era da máquina, é o cume do estágio da qualidade da escuridão. Esses empreendimentos de manufatura pela sociedade humana estão no modo da escuridão porque de fato não há necessidade para as mercadorias manufaturadas. Sociedade humana primariamente requer comida para subsistência, abrigo para dormir, defesa para proteção, e mercadorias para satisfação dos sentidos. Os sentidos são os sinais de vida práticos, como será explicado no verso seguinte. Civilização humana é destinada para purificar os sentidos, e objetos de satisfação sensual devem ser supridos tanto quanto absolutamente requeridos, mas não para agravar necessidades sensoriais artificiais. Comida, abrigo, defesa e prazer sensual são todos necessidades na existência material. De outra forma, em seu estado puro, não contaminado da civilização material, o ser vivo não tem essas necessidades. As necessidades são por isso artificiais, e no estado puro de vida não existem essas necessidades. Assim, incrementar as necessidades artificiais, do modo como é o padrão da civilização material, ou avanço do desenvolvimento econômico da sociedade humana, é uma sorte de engajamento na escuridão, sem conhecimento. Por esse engajamento, energia humana é estragada, porque energia humana é primariamente destinada para purificar os sentidos a fim de engajá-los na satisfação dos sentidos do Supremo Senhor. O Supremo Senhor, por ser o possuidor supremo dos sentidos espirituais, é o mestre dos sentidos, Hrishikesha. Hrisika significa os sentidos, e isa significa o mestre. O Senhor não é o servo dos sentidos, ou, em outras palavras, Ele não é dirigido pelo ditado dos sentidos, porém as almas condicionadas ou os seres vivos individuais são servos dos sentidos. Eles são conduzidos pela direção ou ditado dos sentidos, e por isso civilização material é um tipo de engajamento em prazer sensual somente. O padrão da civilização humana deve ser a cura da doença do prazer sensual, e alguém pode fazer isso simplesmente por se tornar um agente para satisfazer os sentidos espirituais do Senhor. Os sentidos nunca devem ser parados em seus engajamentos, porém alguém pode purificá-los por engajá-los no serviço puro de prazer sensual do mestre dos sentidos. Essa é a instrução do Bhagavad-gita inteiro. Arjuna queria primeiro satisfazer seus próprios sentidos pela decisão de não lutar com seus parentes e amigos, porém o Senhor ensinou o Bhagavad-gita para ele, justamente para purificar a decisão de Arjuna por prazer sensual. Assim Arjuna concordou em satisfazer os sentidos do Senhor, e assim ele lutou a Batalha de Kurukshetra, como o Senhor desejou.

Os Vedas nos instruem para sair fora da existência de escuridão e ir adiante no caminho da luz (tamasi ma jyotir gama). O caminho da luz é dessa forma para satisfazer os sentidos do Senhor. Pessoas enganadas, ou menos inteligentes, seguem o caminho da auto-realização sem nenhuma tentativa para satisfazer os sentidos transcendentais do Senhor por seguir o caminho mostrado por Arjuna e outros devotos do Senhor. Ao contrário, elas tentam artificialmente parar as atividades dos sentidos (sistema yoga), ou negar os sentidos transcendentais do Senhor (sistema jñana). Os devotos, entretanto, estão acima dos yogis e dos jñanis porque devotos puros não negam os sentidos do Senhor; eles querem satisfazer os sentidos do Senhor. Somente por causa da escuridão da ignorância os yogis e jñanis negam os sentidos do Senhor e assim artificialmente tentam controlar as atividades dos sentidos doentios. Na condição doentia dos sentidos há demasiado engajamento dos sentidos no incremento das necessidades materiais. Quando alguém passa a ver a desvantagem de agravar as atividades sensuais, ele é chamado um jñani, e quando alguém tenta parar as atividades dos sentidos pela prática dos princípios de yoga, ele é chamado um yogi, porém quando alguém é plenamente ciente dos sentidos transcendentais do Senhor e tenta satisfazer Seus sentidos, ele é chamado um devoto do Senhor. Os devotos do Senhor não tentam negar os sentidos do Senhor, nem artificialmente tentam parar as ações dos sentidos. Porém eles voluntariamente engajam os sentidos purificados no serviço do mestre dos sentidos, igual foi feito por Arjuna, e por isso obtêm facilmente a perfeição de satisfazer o Senhor, o objetivo último de toda perfeição.

Verso 31

taijasät tu vikurväëäd
indriyäëi daçäbhavan
jïäna-çaktiù kriyä-çaktir
buddhiù präëaç ca taijasau
çrotraà tvag-ghräëa-dåg-jihvä
väg-dor-meòhräìghri-päyavaù

Por mais transformação do modo da paixão, os órgãos dos sentidos tais quais o ouvido, pele, nariz, olhos, língua, boca, mãos, genitais, pernas, e o orifício para evacuação, juntos com inteligência e energia viva, são todos gerados.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A condição de vida na existência material depende mais ou menos da inteligência e poderosa energia viva de alguém. Inteligência para neutralizar o esforço árduo por existência é assistida pelos sentidos para aquisição de conhecimento, e a energia viva se mantém por manipular os órgãos ativos, tais quais as mãos e pernas. Porém na totalidade, a luta por existência é um esforço do modo da paixão. Por isso todos os órgãos dos sentidos, liderados pela inteligência e a energia viva, prana, são produtos e subprodutos diferentes do segundo modo da natureza, chamado paixão. Esse modo da paixão, entretanto, é o produto do elemento ar, como descrito anteriormente.

Verso 32

yadaite 'saìgatä bhävä
bhütendriya-mano-guëäù
yadäyatana-nirmäëe
na çekur brahma-vittama

Ó Narada, melhor dos transcendentalistas, as formas do corpo não podem acontecer tão logo essas partes criadas, a saber, os elementos, sentidos, mente e modos da natureza, não estiverem montados.

Iluminação de Srila Prabhupada:

As diferentes partes da construção corpórea dos seres vivos são exatamente iguais aos diferentes tipos de veículos automotivos manufaturados pela montagem das partes aliadas do motor. Quando o carro está pronto, o condutor senta no carro e se move do jeito que desejar. Isso também está confirmado no Bhagavad-gita (18.61): o ser vivo está sentado na máquina do corpo, e o carro do corpo se move pelo controle da natureza material, justamente igual os trens ferroviários se movem sob a direção do controlador. Os seres vivos, entretanto, não são os corpos, eles são separados dos carros do corpo. Porém os cientistas materiais menos inteligentes não podem entender o processo de reunir as partes do corpo, a saber, os sentidos, a mente e as qualidades dos modos materiais. Todo ser vivo é uma fagulha espiritual, parte e parcela do Ser Supremo, e pela bondade do Senhor, porque o Pai é bom com Seus filhos, os seres vivos individuais recebem uma pequena liberdade para agir de acordo com seu próprio desejo para dominar a natureza material. Justamente igual um pai dá alguns brinquedos para a criança chorona para agradá-la, a criação material inteira é feita possível pela vontade do Senhor para permitir que seres vivos confusos dominem as coisas do modo como desejem, embora sob o controle do agente do Senhor. Os seres vivos são exatamente iguais a crianças pequenas a brincar no campo material sob o controle da criada do Senhor (natureza). Eles aceitam a maya, ou a criada, como tudo em tudo e assim concebem erroneamente a Verdade Suprema como feminina (deusa Durga etc.). Os tolos, materialistas infantilizados não podem alcançar além do conceito da criada, natureza material, porém os filhos crescidos inteligentes do Senhor sabem bem que todos atos da natureza material são controlados pelo Senhor, justamente igual uma criada está sob o controle do patrão, o pai das crianças não desenvolvidas.

As partes do corpo, tais quais os sentidos, são a criação do mahat-tattva, e quando estão reunidas pela vontade do Senhor, o corpo material entra em existência, e o ser vivo recebe permissão para usá-lo nas atividades adiante. Isso é explicado como segue.

Verso 33

tadä saàhatya cänyonyaà
bhagavac-chakti-coditäù
sad-asattvam upädäya
cobhayaà sasåjur hy adaù

Assim quando tudo isso ficou montado pela força da energia da Suprema Personalidade de Deus, este universo certamente surgiu por aceitar ambas as causas primária e secundária da criação.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Neste verso está mencionado claramente que a Suprema Personalidade de Deus exerce Suas energias diferentes na criação; não é que Ele em Pessoa é transformado em criações materiais. Ele Se expande por Suas diferentes energias, e também por Suas porções plenárias. Num canto do céu espiritual do brahmajyoti uma nuvem espiritual às vezes aparece, e a porção coberta é chamada o mahat-tattva. O Senhor então, por Sua porção plenária como Maha-Vishnu, deita dentro da água do mahat-tattva, e a água é chamada o Oceano Causal (Karana-jala). Enquanto Maha-Vishnu dorme dentro do Oceano Causal, inumeráveis universos são gerados junto com Sua respiração. Esses universos flutuam, e estão espalhados por todo Oceano Causal. Eles permanecem somente durante o período de respiração de Maha-Vishnu. Em cada e todo globo universal, o mesmo Maha-Vishnu entra novamente como Garbhodakashayi Vishnu e deita sobre a encarnação de serpente Shesha. De Seu umbigo brota um caule de lótus, e sobre o lótus, Brahma, o Senhor do universo, nasce. Brahma cria todas formas de seres vivos de diferentes modelos em termos dos diferentes desejos dentro do universo. Ele também cria o Sol, Lua e outros semideuses.

Por isso o engenheiro chefe da criação material é o próprio Senhor Ele mesmo, como confirmado no Bhagavad-gita (9.10). Somente Ele dirige a natureza material para produzir todas sortes de criações móveis e imóveis.

Existem dois modos de criação material: a criação dos universos coletivos, como afirmado acima, feita por Maha-Vishnu, e a criação do universo singular. Ambas são feitas pelo Senhor, e assim a forma universal, como podemos ver, acontece.

Verso 34

varña-püga-sahasränte
tad aëòam udake çayam
käla-karma-svabhäva-stho
jévo 'jévam ajévayat

Assim todos os universos permanecem milhares de eras dentro da água (o Oceano Causal), e o Senhor dos seres vivos, ao entrar em cada um deles, causa que eles sejam plenamente animados.

Iluminação de Srila Prabhupada:

O Senhor é descrito aqui como jiva porque Ele é o líder de todos outros jivas (seres vivos). Nos Vedas Ele é descrito como nitya, o líder de todos outros nityas. A relação do Senhor com os seres vivos é igual a de um pai com os filhos. Os filhos e o pai são qualitativamente iguais, porém o pai nunca é o filho, nem o filho nunca é o pai que gera. Assim, como descrito acima, o Senhor como Garbhodakashayi Vishnu ou Superalma Hiranyagarbha entra em cada e todo universo e causa que ele fique animado por gerar os seres vivos dentro do ventre da natureza material, como confirmado no Bhagavad-gita (14.3). Depois de cada aniquilação da criação material, todos seres vivos imergem dentro do corpo do Senhor, e depois da criação eles são novamente impregnados dentro da energia material. Na existência material, por isso, a energia material é visivelmente a mãe dos seres vivos, e o Senhor é o pai. Quando, entretanto, a animação acontece, os seres vivos revivem suas próprias atividades naturais sob o encanto do tempo e energia, e assim variedades de seres vivos são manifestados. O Senhor, por isso, é ultimamente a causa de toda animação do mundo material.

Verso 35

sa eva puruñas tasmäd
aëòaà nirbhidya nirgataù
sahasrorv-aìghri-bähv-akñaù
sahasränana-çérñavän

O Senhor (Maha-Vishnu), embora deitado no Oceano Causal, veio para fora dele, e dividiu-Se como Hiranyagarbha, Ele entrou em cada universo e assumiu o virat-rupa, com milhares de pernas, braços, bocas, cabeças etc..

Iluminação de Srila Prabhupada:

As expansões dos sistemas planetários dentro de cada e todo universo estão situadas nas diferentes partes do virat-rupa (forma universal) do Senhor, e são descritas a seguir.

Verso 36

yasyehävayavair lokän
kalpayanti manéñiëaù
kaöy-ädibhir adhaù sapta
saptordhvaà jaghanädibhiù

Grandes filósofos imaginam que os sistemas planetários completos dentro do universo são exibições dos diferentes membros superiores e inferiores do corpo universal do Senhor.

Iluminação de Srila Prabhupada:

A palavra kalpayanti, ou "imaginar", é significativa. A forma universal virat do Absoluto é uma imaginação dos filósofos especuladores que são incapazes de se ajustar para a forma de duas mãos eterna do Senhor Sri Krishna. Embora a forma universal, como imaginado pelos grandes filósofos, é um dos aspectos do Senhor, é mais ou menos imaginário. É dito que os sete sistemas planetários superiores estão situados acima da cintura da forma universal, enquanto os sistemas planetários inferiores estão situados abaixo de Sua cintura. A idéia impressa aqui é que o Supremo Senhor é consciente de cada parte de Seu corpo, e em nenhum lugar dentro da criação existe nada além do Seu controle.

Verso 37

puruñasya mukhaà brahma
kñatram etasya bähavaù
ürvor vaiçyo bhagavataù
padbhyäà çüdro vyajäyata

Os brahmanas representam Sua boca, os ksatriyas Seus braços, os vaisyas Suas coxas, e os sudras nascem das Suas pernas.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Todos seres vivos são declarados como as partes e parcelas do Supremo Senhor, e como eles são dessa forma é explicado neste verso. As quatro divisões da sociedade humana, a saber, a classe inteligente (os brahmanas), a classe administrativa (os ksatriyas), a classe mercantil (os vaisyas), e a classe trabalhadora (os sudras), estão todas em diferentes partes do corpo do Senhor. Assim, ninguém é diferente do Senhor. A boca do corpo e as pernas do corpo não são diferentes constitucionalmente, porém a boca ou a cabeça do corpo é qualitativamente mais importante do que as pernas. Ao mesmo tempo, a boca, as pernas, os braços e as coxas são todas partes componentes do corpo. Esses membros do corpo do Senhor são destinados para servir o todo completo. A boca é feita para falar e comer, os braços são destinados para a proteção do corpo, as pernas são destinadas para carregar o corpo, e a cintura do corpo é destinada para manter o corpo. A classe inteligente na sociedade, por isso, deve falar em benefício do corpo, e também aceitar alimento para satisfazer a fome do corpo. A fome do Senhor é aceitar os frutos do sacrifício. Os brahmanas, ou a classe inteligente, devem ser bem versados em executar esses sacrifícios, e a classe subordinada deve tomar parte desses sacrifícios. Falar para o Supremo Senhor significa glorificar o Senhor por meio de propagar o conhecimento do Senhor como ele é, propagar a natureza de fato do Senhor e a posição de fato de todas outras partes do corpo inteiro. Os brahmanas, por isso, são obrigados a conhecerem os Vedas, ou a fonte última do conhecimento. Veda significa conhecimento, e anta significa o fim dele. De acordo com o Bhagavad-gita, o Senhor é a fonte de tudo (aham sarvasya prabhavah (Bg. 10.8)), e assim o fim de todo conhecimento (Vedanta) é conhecer o Senhor, conhecer nossa relação com Ele e agir de acordo com esse relacionamento somente. As partes do corpo são relacionadas ao corpo; similarmente o ser vivo deve conhecer sua relação com o Senhor. A vida humana é especialmente destinada para esse propósito, a saber, conhecer a relação de fato de cada ser vivo com o Supremo Senhor. Sem conhecer essa relação, a vida humana é desperdiçada. A classe de pessoas inteligentes, os brahmanas, são dessa forma especialmente responsáveis para propagar esse conhecimento de nosso relacionamento com o Senhor e conduzir a massa geral de pessoas para o caminho certo. A classe administrativa é destinada para proteger os seres vivos para que eles possam servir esse propósito; a classe mercantil é destinada para produzir grãos alimentícios e distribuí-los para a sociedade humana completa para que a população inteira tenha uma chance de viver confortavelmente e desempenhar os deveres da vida humana. A classe mercantil também é obrigada a dar proteção para as vacas a fim de obter leite e subprodutos de leite suficientes, o qual somente pode dar saúde e inteligência adequados para manter a civilização perfeitamente destinada para conhecimento da verdade última. E a classe trabalhadora, que não é nem inteligente nem poderosa, pode ajudar com serviços físicos para as classes superiores e assim serem beneficiados por sua cooperação. Dessa forma o universo é uma unidade completa em relação com o Senhor, e sem esse relacionamento com o Senhor a sociedade humana inteira é perturbada e é sem qualquer paz e prosperidade. Isso é confirmado nos Vedas: brahmano 'sya mukham asid, bahu rajanyah krtah.

Verso 38

bhürlokaù kalpitaù padbhyäà
bhuvarloko 'sya näbhitaù
hådä svarloka urasä
maharloko mahätmanaù

Os sistemas planetários inferiores, acima até o limite do estrato terrestre, são ditos como situados em Suas pernas. Os sistemas planetários intermediários, a começar por Bhuvarloka, estão situados em Seu umbigo. E os sistemas planetários ainda mais elevados, ocupados pelos semideuses e sábios e santos altamente cultos, estão situados no tórax do Supremo Senhor.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Existem quatorze esferas de sistemas planetários dentro deste universo. Os sistemas planetários inferiores são chamados Bhurloka, os sistemas intermediários são chamados Bhuvarloka, e os sistemas planetários mais elevados, acima até Brahmaloka, o sistema planetário mais elevado do universo, são chamados Swarloka. E todos eles estão situados no corpo do Senhor. Em outras palavras, ninguém dentro deste universo é sem um relacionamento com o Senhor.

Verso 39

gréväyäà janaloko 'sya
tapolokaù stana-dvayät
mürdhabhiù satyalokas tu
brahmalokaù sanätanaù

Desde a frente do tórax acima até o pescoço da forma universal do Senhor estão situados os sistemas planetários chamados Janaloka e Tapoloka, enquanto Satyaloka, o sistema planetário mais elevado, está situado na cabeça da forma. Os planetas espirituais, entretanto, são eternos.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Muitas vezes nestas páginas nós discutimos os planetas espirituais situados além do céu material, e a descrição é corroborada neste verso. A palavra sanatana é significativa. Essa mesma idéia de eternidade é expressa no Bhagavad-gita (8.20), onde é dito que além da criação material está o céu espiritual, onde tudo é eterno. Às vezes Satyaloka, o planeta no qual Brahma reside, também é chamado Brahmaloka. Porém o Brahmaloka mencionado aqui não é o mesmo que o sistema planetário Satyaloka. Esse Brahmaloka é eterno, enquanto o sistema planetário Satyaloka não é eterno. E para distinguir entre os dois, o adjetivo sanatana foi usado neste caso. De acordo com Srila Jiva Goswami, esse Brahmaloka é o loka ou morada do Brahman, ou o Supremo Senhor. No céu espiritual todos planetas são tão bons quanto o Senhor Ele mesmo. O Senhor é todo espírito, e Seu nome, fama, glórias, qualidades, passatempos etc., não são diferentes Dele. Nesses planetas não existe diferença entre o corpo e a alma, nem existe nenhuma influência de tempo como é experimentada no mundo material. E em adição de não haver nenhuma influência de tempo, os planetas dentro, Brahmaloka, por serem espirituais, nunca são aniquilados. Toda variedade nos planetas espirituais também é unida com o Senhor, e por isso o aforismo Védico ekam evadvitiyam é plenamente realizado na atmosfera sanatana da variedade espiritual. Este mundo material é apenas uma sombra fantasmagórica do reino espiritual do Senhor, e porque é uma sombra nunca é eterno; a variedade no mundo material da dualidade (espírito e matéria) não pode ser comparada com a do mundo espiritual. Por causa do pobre fundo de conhecimento, pessoas menos inteligentes às vezes se enganam sobre as condições do mundo de sombra como equivalentes àquelas do mundo espiritual, e assim confundem o Senhor e Seus passatempos no mundo material como igual às almas condicionadas e suas atividades. O Senhor condena tais pessoas menos inteligentes no Bhagavad-gita (9.11):

avajänanti mäà müòhä
mänuñéà tanum äçritam
paraà bhävam ajänanto
mama bhüta-maheçvaram

Sempre que o Senhor encarna, Ele faz isso dentro de Sua potência interna plena (atma-maya), e pessoas menos inteligentes O confundem como uma das criações materiais. Srila Shridhara Swami, dessa forma, que comentou corretamente sobre este verso, diz que o Brahmaloka mencionado aqui é Vaikuntha, o reino de Deus, que é sanatana, ou eterno, e por isso não é exatamente igual às criações materiais descritas acima. A forma universal virat do Senhor é uma imaginação para o mundo material. Ela não tem nada a ver com o mundo espiritual, ou o reino de Deus.

Versos 40 e 41

tat-kaöyäà cätalaà kÿptam
ürubhyäà vitalaà vibhoù
jänubhyäà sutalaà çuddhaà
jaìghäbhyäà tu talätalam

mahätalaà tu gulphäbhyäà
prapadäbhyäà rasätalam
pätälaà päda-talata
iti lokamayaù pumän

Meu querido filho Narada, saiba de mim que existem sete sistemas planetários inferiores do total de quatorze. O primeiro sistema planetário, conhecido como Atala, está situado na cintura; o segundo, Vitala, está situado nas coxas; o terceiro, Sutala, nos joelhos; o quarto, Talatala, nas canelas; o quinto, Mahatala, nos tornozelos; o sexto, Rasatala, na parte de cima dos pés; e o sétimo, Patala, nas solas dos pés. Assim a forma virat do Senhor é cheia de sistemas planetários.

Iluminação de Srila Prabhupada:

Empreendedores modernos (os astronautas que viajam no espaço) podem obter informação do Srimad Bhagavatam que no espaço existem quatorze divisões de sistemas planetários. A situação é calculada do sistema planetário terrestre, que se chama Bhurloka. Acima de Bhurloka está Bhuvarloka, e o sistema planetário mais elevado é chamado Satyaloka. Esses são os sete lokas superiores, ou sistemas planetários. E similarmente, existem sete sistemas planetários inferiores, conhecidos como Atala, Vitala, Sutala, Talatala, Mahatala, Rasatala e Patala lokas. Todos esses sistemas planetários estão espalhados por todo o universo completo, que ocupa uma área de dois bilhões vezes dois bilhões de milhas quadradas. Os astronautas modernos podem viajar apenas alguns milhares de milhas longe da Terra, e por isso a tentativa deles de viajar no céu é algo igual uma brincadeira de criança na margem de um oceano expansivo. A Lua está situada no terceiro status dos sistemas planetários superiores, e no Quinto Canto do Srimad Bhagavatam seremos capazes de saber a situação distante dos vários planetas espalhados pelo vasto céu material. Existem inumeráveis universos além deste no qual fomos colocados, e todos esses universos materiais cobrem apenas uma porção insignificante do céu espiritual, que é descrito acima como sanatana Brahmaloka. O Supremo Senhor muito gentilmente convida os seres humanos inteligentes para retornarem ao lar, de volta ao Supremo, no seguinte verso do Bhagavad-gita (8.16):

ä-brahma-bhuvanäl lokäù
punar ävartino 'rjuna
mäm upetya tu kaunteya
punar janma na vidyate

A começar por Satyaloka, o planeta mais elevado do universo, situado justamente abaixo do Brahmaloka eterno, como descrito acima, todos planetas são materiais. E a situação de alguém em qualquer um dos muitos planetas materiais ainda é sujeita às leis da natureza material, a saber, nascimento, morte, velhice e doença. Porém pode-se obter liberação completa das dores materiais mencionadas acima quando alguém entra dentro da atmosfera Brahmaloka eterna sanatana, o reino de Deus. Por isso liberação, como contemplada pelos filósofos especuladores e os místicos, é possível somente quando alguém se torna um devoto do Senhor. Qualquer um que não seja um devoto não pode entrar dentro do reino de Deus. Somente pelo alcance de uma atitude de serviço na posição transcendental que alguém pode entrar dentro do reino do Supremo. Por isso os filósofos especulativos, bem como os místicos, devem primeiro ficar atraídos pelo culto devocional antes que possam atingir liberação de fato.

Verso 42

bhürlokaù kalpitaù padbhyäà
bhuvarloko 'sya näbhitaù
svarlokaù kalpito mürdhnä
iti vä loka-kalpanä

Outros podem dividir o sistema planetário inteiro em três divisões, a saber, os sistemas planetários inferiores nas pernas (acima até a Terra), os sistemas planetários intermediários no umbigo, e os sistemas planetários superiores (Swarloka) do tórax até a cabeça da Personalidade de Deus.

Iluminação de Srila Prabhupada:

As três divisões dos sistemas planetários completos são mencionadas aqui; quatorze são imaginadas por outros, e isso também está explicado.

Assim terminam os significados Bhaktivedanta do Segundo Canto, Quinto Capítulo, do Srimad Bhagavatam, intitulado "A Causa de Todas Causas".

     

     

Índice do Bhagavad-gita

Índice de Livros

Índice do Srimad Bhagavatam

Desde 18/julho/2000

(Última Edição: 28-ago-2025 )

home